Constelações com o uso de bonecos Playmobil – 78

Usando Figuras para fazer constelações familiares em atendimentos individuais

As constelações de famílias e outros sistemas se tornaram bem conhecidas em um contexto de grupos. Esse trabalho e as áreas de soluções psicoterapêuticas orientadas sistemicamente e fenomenologicamente tem alcançado uma significância fundamental nas áreas psicosociais e tem tido também efeitos em várias abordagens na terapia individual.

Há muitos terapeutas e conselheiros trabalhando em situações nas quais não existe permissão para o trabalho de grupo com constelações. Há também alguns que não se sentem confortáveis ao trabalhar no contexto de um grupo. Além do mais, num nível profundo, muitos desses terapeutas se sentem atraídos para os conceitos subjacentes e ferramentas do trabalho de constelações e estão buscando modos de integrar esta abordagem em seu trabalho com indivíduos, casais e famílias e talvez mesmo em pequenos grupos de supervisão.

O trabalho de constelações com figuras ou objetos oferece um método direto e simples. As figuras, representando membros da família ou pessoas importantes do sistema em particular, são arranjadas numa mesa ou dentro de um espaço definido do local de trabalho.

As figuras

O que se segue é baseado em minha experiência pessoal com constelações de figuras. Desde o início após minha primeira experiência com as constelações familiares de Bert Hellinger e minhas primeiras tentativas de trabalhar com esse método em grupos, eu peguei uma bolsa com fbonecos playmobil de meu filho que há muito tempo ele havia posto de lado. Comecei a carregá-las comigo a todos os lugares onde não havia o apoio de um grupo para meu trabalho de aconselhamento e terapia. Esses lugares incluíam um centro de aconselhamento para casais e famílias, uma clínica psicossomática, pequenos grupos de supervisão e minha própria prática de consultório.

Eu fui compelido a agir dessa forma. Após minha primeira experiência com constelações familiares em grupo e já estava certo que este era “meu” método e “meu” modo de fazer terapia, seja em grupos ou com indivíduos. Alcançar isso pelos bonecos playmobil foi algo que aconteceu naturalmente, sem muita consideração prévia. Eles estavam simplesmente disponíveis, práticos, fáceis de carregar e havia apenas mínimas diferenças entre elas, simplesmente, homens e mulheres com algumas combinações de cor. Graças aos céus eu não falei a ninguém sobre isso naquela época, pois fui capaz de ganhar experiência com os bonecos sem qualquer opinião ou objeção externa. Naquela época, eu não estava nem mesmo seguro que você poderia ainda comprar as figuras playmobil simples, mas isso não era tão terrivelmente importante que tipo de figuras eram usadas, Havia, por exemplo, um assim chamado “quadro familiar” com figuras de madeira que está agora no mercado. Há alguns critérios que eu considero importante na escolha das figuras:

— Elas devem ser figuras com as quais o terapeuta possa trabalhar confortavelmente. Não se preocupe se os clientes aceitarão as figuras. Se o método e as ferramentas estão certas para o ajudante, os clientes sempre virão.

– As figuras deverão ter o mínimo de “personalidade própria” possível, deste modo mantem-se tão livres de pré-conceitos quanto possível e também reduz qualquer distração daquilo que não é essencial. As figuras não são importantes por si mesmas, mas apenas como projeções espaciais dos membros do sistema. O trabalho com figuras torna-se mais fácil quando elas permitem algumas poucas distinções básicas, como por exemplo, entre homens e mulheres, algum modo de indicar em que direção a figura está olhando e talvez cores ou alguma marca que permita distinguir uma pessoa da outra. Usar figuras menores para crianças pode ser uma forma de distração na medida que isso sugere uma referência temporal, o que afasta da qualidade “atemporal” do trabalho de constelações.

Experiência anterior com grupos de constelações

Eu trabalhei primariamente com grupos e meu uso das figures no trabalho individual é baseado totalmente em meu trabalho com grupos de constelação. Acredito que precisamos de experiência com grupos de forma a trabalhar com competência usando constelações de figuras. Essa experiência não precisa ser de trabalhar diretamente com grupos fazendo constelações. Recomendaria experiência com uma constelação pessoal em um grupo e observação de constelações em grupos ou vídeos daquelas que possam fornecer algumas impressões de como elas são. Eu conheço terapeutas e conselheiros que trabalham com figuras sem terem nem mesmo conduzido um grupo de constelações, mas eu não sei de ninguém que tentaria trabalhar com figuras sem ter ao menos visto uma constelação em grupos.

Na próxima sessão, entrarei em detalhes sobre quando uma constelação com figuras é apropriado e como procedo em uma sessão individual quando estou usando uma constelação de figuras, como eu a introduzo com o cliente e como eu trabalho com a constelação de figuras. Eu então irei mostrar os riscos e as oportunidades inerentes a este método e finalmente, direi algo sobre constelações de figuras e a “alma” do trabalho e o valor da abordagem a esse respeito.

O lugar da constelação com figuras na terapia

Aconselhamento e terapia estão ocupados em apoiar um processo que se move em direção a uma solução. Tais processos podem aparecer em uma variedade de formas.

Primeiramente, há os problemas que podem ser resolvidos pelas mudanças de comportamento, através de aprendizagem, criatividade espiritualidade. Aqui a preocupação, em certa extensão, é com algum tipo de atividade mental que libera o cliente de pensar e agir de formas que bloqueiam a solução.

Então há a área do trauma, as feridas profundas que usualmente tem a ver com a ruptura do amor, o movimento interrompido em direção à mãe , ao pai, outras pessoas importantes ou para com a vida em si mesma. Tais injúrias traumáticas muito frequentemente advém de experiências muito precoces na infância. Elas podem ser resolvidas por um processo retroativo de cura na alma entre a criança e uma outra pessoa essencial na vida desta. Finalmente, há uma ampla área de ligação e liberação nas relações. Problemas advém das profundas ligações das pessoas com o destino da comunidade, e as conseqüências que se seguem, primariamente dentro da família e da família ampliada. A solução é encontrada através do reconhecimento das ordens do amor.

O trabalho de constelações é focado nos processos de vínculo e liberação da alma. Soluções emergem através do olhar para a integridade do sistema de relações.Todo mundo no sistema tem um igual direito de pertencer e tem de ser permitido tomar seu próprio lugar de direito. Cada um carrega seu próprio destino e tem de se refrear de meter-se no destino dos outros, e todos os membros do sistema tem que permitir que aquelas coisas que aconteceram no passado pertençam realmente ao passado. Isso tem a ver com a vida e com a morte, boa e má sorte, saúde e doença, sucesso ou fracasso nas relações, pertencimento e exclusão, dar e receber, recompensa e dívida, e auto-determinação como um contraponto a ser um instrumento, sujeito às influências do sistema.

Em essência, há também o critério que indica quando uma constelação familiar deve ser um método útil: quando quer que haja algo na “alma do grupo” que quer ordem, paz e conclusão; quando emaranhamentos estão impedindo um processo de solução ou quando um destino difícil em uma família está gerando um fardo.

Procedimentos com constelações de figuras

Muitos terapeutas e conselheiros vão querer integrar as Constelações Familiares usando figuras em seu próprio modo de trabalhar com sua própria orientação terapêutica básica. Para mim, quando há questões de vínculo e desenlace, normalmente faço só uma sessão na qual o trabalho é concentrado plenamente na constelação com figuras. Há, contudo, muito certamente uma ampla variedade de procedimentos. Certos elementos são importantes para prosseguir com uma constelação de figuras. Assim como em uma constelação de grupo, é essencial em uma sessão individual que a constelação esteja lidando com uma questão séria e seja conduzida pela energia do cliente. O terapeuta é dependente desta energia que leva em direção à solução e o “peso da alma” da questão do cliente. Como ponto inicial, perguntas sobre a natureza da questão em tela e então sobre qual seria um boa resolução trazem clareza e força que são críticas ao sucesso de uma constelação familiar. O terapeuta e o cliente precisam saber desde o início para onde devem dirigir sua energia. Ambos precisam ter algum sentido da “alma grupal” que conduz seus esforços na busca de uma boa solução.

A questão real do cliente é frequentemente oculta no início da sessão individual, como está também a força que deve ter um efeito positivo na solução. Uma orientação é necessária no trabalho com constelações e o processo na alma que apóia este trabalho. Essa orientação deverá ser mais curta, levando imediatamente para fora de qualquer questões ou distrações, evitando dispersar a atenção e energia em direção aos processo familiares fundamentais e construindo confiança para um trabalho conjunto. Normalmente, comento brevemente sobre meu modo de trabalhar, sobre emaranhamentos nos sistemas familiares, crises nas relações e sobre coisas que nós iremos procurar. Se eu já tenho alguma idéia onde nosso trabalho poderá ser orientado, digo uma ou mais histórias apropriadas a partir de casos anteriores que eu já trabalhei. Se eu não tenho a menor idéia de qual direção o trabalho seguirá, algumas vezes é útil oferecer uma mistura de exemplos curtos e prestar atenção à reação do cliente. A base para um passo que resolve em uma constelação é construída a partir da informação importante: os eventos mais relevantes na história da família, a família de origem ou a família atual, os destinos daqueles da família ou do clã. Esta informação e o modo como os clientes compartilham–na freqüentemente levam a um profundo movimento através das relações do sistema e a primeira vista um amor que atua, a um respeito e a emaranhamentos. Ou, você pode sentir imediatamente qual informação tem força e qual não tem, Se algo importante foi omitido ou se o cliente não tem uma informação crítica.

Essa troca de informação é dialógica e ambos, cliente e o terapeuta, precisam ter contato com a “alma do grupo”. O processo reside no essencial e existe a serviço da solução. Ela pode ser alcançada somente com respeito e consentimento relativos aos eventos e fatos envolvidos.

O núcleo da orientação do trabalho sistêmico é a imagem da constelação em si mesma: encontrar – permitindo a si mesmo ser tocado por – as dinâmicas das relações do sistema, rearranjando as posições das figuras na “imagem de solução” e falando as sentenças apropriadas de vínculo e liberação.

Introduzindo as constelações com figuras

Quando alguém já viu ou experimentou as constelações familiares em grupos ou já conhece os livros ou vídeos de Bert Hellinger, uma constelação com figuras raramente necessita de uma introdução. Você simplesmente pode pedir ao cliente para posicionar os membros de sua família com as figuras. Aqui também, contudo, assim como com as pessoas não familiarizadas com as constelações familiares, eu me refiro ao trabalho em grupo com constelações e descrevo brevemente o curso de uma constelação em um grupo. Pelo menos para mim, isso simplifica o trabalho, se eu utilizo as figuras como numa constelação com representantes.

Depois de estabelecido a conexão entre a constelação com figuras e a constelação em grupos, determino com o cliente que pessoas são importantes – ou pelo menos inicialmente importantes – para a constelação, e coloco as figuras necessárias na mesa. Então, eu peço ao cliente que posicione as figuras uma em relação à outra, sem falar ou explicar, de acordo com uma imagem interna, sem ligar para qualquer tempo específico, sem qualquer justificativa, mas simplesmente da forma que ele sinta que é apropriada. Na maioria das vezes, os clientes podem posicionar a constelação sem nenhuma dificuldade.

Quando surgem problemas, eles não são diferentes do que acontece num grupo. Pode não ser o momento certo de fazer uma constelação porque o cliente não tem ainda a prontidão interna necessária ou não confia no método ou no terapeuta ou o que é realmente o tema é uma constelação de um sistema diferente, talvez a família de origem ao invés da família atual ou vice-versa. Isso revela uma das grandes desvantagens da terapia individual quando comparada com a terapia em grupos. Em um grupo você pode trabalhar primeiro com aqueles que estão prontos. Outros que podem estar reticentes, indecisos ou em dúvida podem entrar no trabalho lentamente através do processo na constelação dos demais ou atuando como representantes no sistema familiar dos outros participantes. Eles podem tomar tempo para o seu próprio processo interno. Se se mostrar difícil que o cliente coloque as figuras umas em relação às outras, então algumas vezes faço isso para ele de acordo com o que me parece apropriado com as informações que eu tenho e depois, peço ao cliente que “corrija” a minha constelação. Se você tiver a impressão que a constelação está sendo posicionada com alguma idéia ou  que não bate de alguma forma com as informações dadas ou se todas as figuras são colocadas em linha viradas de face para o cliente na mesa, você deve solicitar à pessoa que verifique o posicionamento novamente. As figuras colocadas em linha, ocorre repetidamente, mas é facilmente corrigida. Relembre o cliente que ele ou ela já está representado por uma figura e que a constelação tem de refletir a relação de cada pessoa com as demais da família.

Trabalhando com constelações de figuras

Uma constelação de figuras serve para revelar os emaranhamentos do cliente no seu sistema familiar e tornar os vínculos e as soluções claros. Isso permite ao indivíduo tomar uma posição apropriada na sua rede de relações, uma posição a partir da qual seja possível tomar, honrar e respeitar ambos os pais. Isso permite à pessoa deixar algo ou alguém ir com amor, ver quem tem de ser permitido ir em paz, e tomar de volta todos que tenham sido excluídos de uma forma apropriada no sistema e no coração do cliente.

As dinâmicas de vínculo e solução tem de se tornar claras pela constelação com figuras sem o apoio dos sentimentos e depoimentos dos representantes, pois as figuras não podem sentir ou falar. Fica a cargo do terapeuta ou conselheiro, usar a constelação com figuras para sentir e expressar os sentimentos que refletem as dinâmicas familiares presentes dentro do sistema. Naturalmente, você pode pedir que o cliente faça isto por si mesmo, o que algumas vezes resulta em uma súbita experiência do tipo “Aha!”. Em minha experiência, contudo, os clientes estão freqüentemente cegos às dinâmicas essenciais de suas famílias. Eles trazem um entendimento inconsciente ao processo, caso ocntrário não seriam capazes de posicionar uma constelação propriamente e o terapeuta não seria capaz de obter uma percepção do sistema, mas esse conhecimento inconsciente é oculto. A tarefa do terapeuta, daquele que observa de fora, é ajudar a “alma de grupo” do cliente a abrir-se de tal forma que aquilo que está oculto seja revelado e possa ser dito abertamente. Já desde o começo, apresento o conceito de constelação em grupos como nosso trabalho ideal e baseio meus comentários sobre as dinâmicas familiares no processo em grupos. Como uma pessoa que olha a partir de fora, eu proclamo os sentimentos para cada membro da família em cada posição particular. Isso quer dizer, eu não digo como os membros da família próprios se sentem naquela posição, mas o que os representantes provavelmente diriam sobre os sentimentos naquela posição. Eu faço assim porque isso dá ao cliente uma certa distância de sua experiência dominante com os membros da família e porque isso dá, a mim e ao cliente, mais liberdade para experimentar e tomar aquilo que pode ser visto na constelação. Isso também torna mais fácil para eu corrigir o que tiver sido dito para contornar possível resistência. Se o que eu digo sobre a dinâmica familiar e os sentimentos dos representantes “encaixa” e toca em algo do cliente, ele estará em contato com sua família em um estado de transe de maior ou menor grau.

Por assim dizer, presto atenção à reação do cliente. Algumas vezes, pergunto se meu modo de sentir as coisas parece correto e faz sentido para ele. Quando tenho sucesso em penetrar dentro do sistema e suas dinâmicas, o cliente está ganho e usualmente nada mais fica entre nós no caminho até uma boa solução. Não é incomum que um cliente pergunte, atordoado: “Como você sabe disso?”.

Na próxima fase, continuo a trabalhar com as figuras assim como nas constelações em grupos. Eu mudo as posições das figuras, digo em voz alta que mudanças ocorrem nas dinâmicas e nos sentimentos, até que nós possamos ver aquilo que está tentando se revelar por si mesmo. Continuo dessa forma até que cheguemos a uma imagem de solução. Quando estou certo, porque meus próprios sentimentos se deixam tocar assim como aqueles do cliente, simplesmente permaneço com aquilo que emerge e falo isso em voz alta. Se eu não sinto que está certo, interrompo o processo e pergunto o que o cliente está sentindo, em termos de si ou de outros membros da família, ao olhar para os movimentos das figuras. Eu peço informação adicional ou tento diferentes posições das figuras para determinar o que parece mais correto. Continuo até que as dinâmicas e a solução sejam reveladas com clareza suficiente.

Peço ao cliente para sentir-se na posição de solução e relatar seus sentimentos e observo para ver se nesse lugar há um alívio para o cliente e se isso parece curar, resolver ou tornar mais leve. Algumas vezes, paro a constelação com figuras nesse ponto.

Frequentemente uso as frases de solução que seriam ditas numa constelação em grupo quando o cliente substitui seu representante na constelação ou uma frase que um representante possa dizer diretamente ao cliente. Faço isso quando um cliente está tendo dificuldade em tomar seu novo lugar no sistema ou quando a solução a qual chegamos ainda não “assentou” ou parece precisar de mais esclarecimento ou aprofundamento.

A parte mais importante do processo em uma constelação com figuras – como numa constelação em grupo – é ser tocado pelas frases que revelam os profundos vínculos, o alívio e liberação. Freqüentemente peço a um cliente para falar as palavras apropriadas, silenciosamente ou em voz alta, e imaginar-se fazendo ou realmente fazer os gestos que acompanham tais frases, por exemplo, um movimento de reverência.

Se acontecer que eu não consiga sentir o meu caminho através das dinâmicas do sistema, se não tenho nenhum sentimento pelos membros da família representados pelas figuras ou das dinâmicas do sistema ou se o cliente permanece intocável pela minha “imagem” da rede de relações, então interrompo o processo da constelação e obtenho mais informação, conto histórias curtas ou simplesmente encerro o trabalho.

Riscos e oportunidades nas constelações com figuras

Os risco e erros que podem ser causados ao se fazer uma constelação com figuras são basicamente os mesmos que se apresentam quando fazemos constelações em grupos:

– Que você trabalhe sem que o cliente esteja totalmente pronto para tal, portanto sem a força do cliente;

– Que você siga algum padrão pré-determinado que não permite que aquilo que é novo e diferente surja.

– Que você trabalhe com excesso de informação ou perca informação crítica;

– Que você seja influenciado por padrões visuais e associações que não estão em harmonia com a alma.

A principal desvantagem quando comparado a uma constelação em grupo é que um terapeuta pode frequentemente encontrar dinâmicas sistêmicas ocultas através de afirmações bastante surpreendentes dos representantes. Especialmente em casos difíceis, com dinâmica novas e incomuns, isso é crítico. Por exemplo, se uma pessoa no sistema está sendo levada a ir no lugar de outra, isso é freqüentemente algo que não fica imediatamente claro numa constelação. É o relato dos representantes que pode fornecer indicações dessa dinâmica. Se um terapeuta tem uma suspeita sobre algo desse tipo, é mais fácil checar isso num grupo. A energia e participação dos membros do grupo que observam a constelação também dão importantes indicações sobre a acurácia das hipóteses levantadas.

Essas dificuldades, contudo, não são críticas. As dinâmicas da “alma de grupo” do cliente não são reveladas pelos representantes, mas pela alma do cliente. Em uma situação de atendimento individual você também pode sentir a força quando uma hipótese traz algo essencial à luz. O último critério é o sentimento de harmonia e de se sentir tocado, percebido tanto pelo cliente como pelo terapeuta. Isso pode ser muito surpreendente numa constelação com figuras. O terapeuta vê a solução através da compreensão do cliente. Compreensão significa introjetar aquilo que emerge da profundidade oculta. A antiga palavra grega para verdade significa aquilo que não está oculto à visão. As coisas que se desemaranham e resolvem usualmente vem inesperadamente e calmamente. Elas tocam, servem à paz e favorecem a ação. Elas honram todos e são benéficas a todos do sistema.

As constelações de figuras também oferecem uma oportunidade, quando um terapeuta ou conselheiro não se sente competente para manejar um processo em grupo. Uma constelação em grupo pode tomar uma dinâmica por si mesma que não mais serve ao sistema do cliente se está faltando uma visão clara, uma percepção precisa, e certa qualidade de liderança do terapeuta. Uma constelação de figuras também evita o perigo dos representantes trazerem para dentro dela seus próprios problemas pessoais. O preço pelo controle desse aspecto é que haverá menos controle sobre os prejuízos e pontos cegos do terapeuta, e num atendimento individual, um terapeuta é mais vulnerável aos caprichos do cliente, que podem ser algumas vezes consideráveis.

Constelações com figures e o trabalho na Alma

Em constelações de grupo, aqueles que são posicionados na constelação estão ressonando a alma do sistema. Figuras não podem fazer isso. Elas permanecem como objetos representativos que funcionam para o olho da mente. Você não precisa pedir às figuras que saiam de seus papéis ao final da constelação.

Uma constelação de figuras pode ser limitada a uma representação visual, que era como eu trabalhava nos meus primeiros anos com a técnica. As figuras forneciam uma ponte visual, um resumo gráfico do que havia sido discutido, um método que talvez permitisse sugestões indiretas. Tudo isso pode ser muito útil, mas uma constelação com figuras pode oferecer mais. É surpreendente o quão rapidamente ela estabelece um espaço para a alma na qual a “alma do grupo” pode ressonar. Essa ressonância é efetuada pelo terapeuta e pelo cliente. O trabalho de constelação não é apenas trabalhar com imagens visuais. Ele toca e move porque oferece espaço para as imagens. Imagens espacialmente representadas são diferentes de imagens planas bidimensionais, não só por fornecerem as dimensões corretas para as relações, mas mais importante que isso, ao permitirem que algo surge para fora da imagem, algo difícil de descrever que não é visível através de um simples olhar para a imagem. O que surge é como um campo de ressonância.

A ressonância do cliente e do terapeuta com a “alma do grupo” e suas dinâmicas não vem das figuras, mas através delas. Ao mesmo tempo, uma constelação com figuras apóia um processo terapêutico que é externalizado e levado a partir de idéias e pensamentos internos. Ele vive mais perto da realidade do que simplesmente “falar a respeito”. A surpreendente profundidade dos sentimentos de ser tocado não vem só da constelação. A “ressonância” é também conectada às palavras: a palavras que refletem verdades básicas, a palavras que trazem clareza, a palavras que ligam e palavras que desemaranham, a palavras de amor e força. As experiências profundamente tocantes também emergem dos gestos, uma expressão física dos movimentos da alma. Trabalhar com figuras tem um efeito profundo só quando vai além dos aspectos visuais para o campo da rede de relações, quando ao poder desse campo é permitido penetrar e abrir os diálogos e gestos que curam.

O valor das constelações com figures como método

Qualquer um que esteja convencido da profundidade de alcance dos processos em sistemas familiares e na alma pode também de fato, trabalhar em direção a solução sem constelações, grupos de figuras, só através de um consciência dos fatos essenciais e destinos, estando em harmonia com a alma da pessoa que busca ajuda na procura por compreensão.

Normalmente, contudo, tais métodos fazem o trabalho do terapeuta mais fácil e também dão ao cliente acesso a aquilo que é essencial e crítico. Isso coleta informação, estrutura os procedimentos e foca a atenção. Usando as constelações, é mais fácil para o cliente e o terapeuta experimentar estar num caminho conjunto, abrir ao que possa emergir das profundidades ocultas. Eles se juntam em um espaço da alma do cliente, só o tanto necessário para achar uma solução. Em uma constelação de figuras e em uma imagem de solução, o cliente experimenta algo que pode ser levado para casa, algo que continua a trabalhar na alma e frequentemente só se desdobra plenamente em seus efeitos plenos após um certo período de tempo.

Talvez seja algo similar a uma apresentação teatral. Só ler a peça pode me manter falando, mas a apresentação no teatro é usualmente uma experiência mais profunda e mais impressionante. Isso é verdade, contudo, só quando permanece fiel ao coração da peça, à realidade e a uma transformação na audiência.

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[1] Jakob R. Schneider – Publicado em: Weber, Gunthard (Ed.) (2000): Praxis des Familien-Stellens. Beiträge zu Systemischen Lösungen nach Bert Hellinger. Heidelberg (Carl-Auer-Systeme). Traduzido para o português por Décio Fábio de Oliveira Jr, a partir de uma versão inglesa do site www.constelationflow.com . Reproduzido no site da editora Atman ltda com permissão expressa da Carl-Auer Verlag. A reprodução desse artigo, exceto para uso privativo ou distribuição por qualquer meio sem permissão expressa do detentor do “copyright”, constitui violação de direito de cópia e fere a legislação brasileira e internacional em vigor.